Todos nós temos ídolos ou admiramos alguma celebridade. Mas, afinal, você já parou para pensar na origem dessas palavras?
Ídolo: do grego eídolon e do latim idolum, significa imagem que se presta ao culto e adoração. Seu sentido se estendeu do campo religioso para pessoas que, mais do que admiradas, passam a ser consagradas.
Celebridade: do ato de “celebrar”, o termo passa a nomear uma pessoa que, em razão de uma qualidade ou feito, torna-se digna de celebração, reconhecimento.
Os significados acima remetem a um fenômeno contemporâneo que vincula a ideia de ídolo e celebridade a uma espécie de culto fundamentado na admiração e reverência. Contudo, a atração exercida por indivíduos sobre um grande número de seguidores é algo existente desde a Antiguidade.
Isso ocorre porque a concepção aristocrática da liderança sempre promoveu a diferenciação entre o dirigente, que está acima da massa, e a própria massa. Essa diferenciação faz com que o “outro” confirme a existência de lugares diversos ocupados no status quo de uma sociedade.
Nesse contexto, o ídolo traz consigo a distância, provocando um estranhamento enquanto “outro” que fascina e convoca a um processo de idealização. O antropólogo, sociólogo e filósofo Edgar Morin ressalta o quanto o lado divino da estrela atende às necessidades de projeção dos indivíduos ordinários – do seu desejo de ir ao encontro da beleza, da força, da coragem, da perfeição, das crenças.
Ao mesmo tempo, o lado humano, com suas fragilidades, gera a identificação, fazendo com que o público compreenda o sofrimento de seu ídolo, partilhe suas dores, seja solidário nas suas perdas. Ou seja, que os atraia pelo que os assemelha.
Em suma, ainda que faça parte do “nós”, a celebridade se situa para além do “nós”.
Com intuito de explicar a relação emocional e magnética entre a celebridade e os seguidores, Max Weber desenvolveu o conceito de carisma. Sua aplicação estabelece que qualidades especiais ou únicas atribuídas ao indivíduo fazem dele um “profeta” ou um “salvador pessoal”, que desperta paixão e suscita devotos.
Essa lógica, entretanto, vem se alterando com o passar dos anos. O fascínio exercido pelas celebridades, atrelado à crescente demanda de referências por parte do público, promove a constante criação de ídolos.
O Big Brother, no final do século XX, e mesmo a recente visibilidade proporcionada pelas mídias digitais, com as blogueiras, os youtubers e os ilustres desconhecidos em seus cinco minutos de fama nas redes sociais, provaram que todos os homens comuns podem, e muitos querem, ascender à celebridade.
Emerge, assim, a celebridade pluralista. É dentro do ordinário que os candidatos se lançam em busca de destaque, não sendo mais necessário se inscrever num quadro de excepcionalidade para tal.
Isso leva a questionar sobre qual o papel do carisma nesse novo cenário. Com o anseio da visibilidade por ela mesma, o valor da exibição migra dos feitos e obras para o próprio eu. Com isso, tem-se o carisma já não nos indivíduos, mas em coisas sociais que os transcendem, como a imagem deles criadas pela mídia.
Seriam, portanto, “pseudocelebridades”, visto que o carisma agora lhes é emprestado pela indústria cultural, como um carisma simulacro. Em busca da fama, a celebridade contemporânea cria falsas ilusões e manipula os padrões considerados ideais para tentar suprir sua falta de conteúdo.
A reflexão que fica é: temos que redobrar nosso filtro ao absorver o que está sendo pregado pelos ídolos modernos e nos ater ao que as crianças e jovens têm como inspiração nos dias de hoje. Devemos buscar aquilo que efetivamente agregue valor em nossas vidas, tendo cuidado para não mergulharmos em neuroses baseadas em modelos inalcançáveis fomentados pelas celebridades do inútil através dos meios de comunicação.