Nunca se discutiu tanto sobre a mulher e sua atuação na sociedade. Rotulada de sexo frágil e incapaz, a figura feminina passou por transformações, rompeu paradigmas, contribuiu para uma nova cultura – de mais resistência e menos preconceito – e mostrou sua capacidade de exercer os diversos papéis da vida pessoal e profissional. Que mulher é essa do século 21? É a cantada na música de Erasmo Carlos, pronunciada por Elba Ramalho, lembrada por Milton Nascimento e motivo de inspiração para Vinicius de Moraes. É mãe, esposa, cuida de casa, dos filhos, lidera uma equipe de centenas de funcionários e não se esquece de nenhum detalhe.
As mulheres, principalmente as da geração milênio, são mais confiantes no ambiente de trabalho e sabem que possuem as mesmas capacidades empreendedoras em relação aos homens. Dados divulgados recentemente pelo Global Entrepreneurship Monitor revelam que a separação entre os dois gêneros está diminuindo a passos largos no mundo, em especial no Brasil. Ficou comprovado que no período de 2015 a 2017 a atividade empreendedora feminina subiu 10%. As brasileiras têm cinco vezes mais participação do que os homens em negócios de educação, saúde e bem-estar. Em 1950, apenas 13,6% das mulheres eram economicamente ativas, enquanto a taxa de participação feminina passou 47,2% em 2016. Trata-se de uma situação relevante e que deve ser comemorada veementemente, porém, não pode ofuscar os desafios.
Administrar o tempo e distinguir o que é urgente do que é importante são dois exemplos claros de questões que tumultuam a vida da mulher moderna. O momento é de transição e turbulência muito forte, principalmente, em relação aos valores. Em geral, as mulheres ainda são vistas com temor em vários segmentos empresariais. Acredita-se que elas privilegiam a família em detrimento do trabalho e apresentam, por isso, baixa produtividade. Sem contar a culpa e o constrangimento que enfrentam ao anunciar gravidez no trabalho, travando uma luta para que seus direitos não sejam tratados como favor ou concessão. Conseguir desempenhar um bom trabalho lado a lado com os homens e ainda ter uma estrutura familiar sólida é um desafio constante para quem tem dupla jornada.
Ainda hoje, é latente a ideia que aloca às mães significado inferior. Contudo, já pensou se elas ganhassem salários para todas as tarefas que desempenham? O site norte-americano Salary.com, líder na área de cálculos, fez essa conta. O resultado? US$ 113.586 (pouco mais de R$ 358 mil) por ano e cerca de R$ 30 mil por mês. A análise considerou cuidar da casa e dos filhos, contando as profissões de CEO, operadora de máquina de lavar, psicóloga, zeladora, motorista de van, operadora de computador, gerente de instalações, professora de creche, cozinheira e governanta. Essas funções fazem parte do cotidiano delas e nem se percebe.
Outro aspecto que merece comentário está no efeito do desemprego, alavancado pela crise econômica que assola o país. Para as mulheres, a desocupação é de 13,8%, enquanto a média para o sexo masculino atinge 10,7%, conforme dados do IBGE. Muitos empregadores evitam contratá-las, mesmo com formação melhor, pela tendência de se dedicarem à família. Na prática, por mais que se tente negar, ainda persiste o machismo, as desigualdades salariais, a pouca representatividade política e a violência.
A sociedade evoluiu muito quando comparada à época de nossas avós e mães. Já tivemos muitos triunfos, impulsionados pela preparação que as mulheres buscam, nos estudos, na profissão, na ocupação de espaços que, anteriormente, pertenciam somente aos homens. Todavia, ainda há muito a se fazer. Ser mulher bem sucedida pessoal e profissionalmente é, com certeza, uma grande conquista.
Christina Fabel, diretora de ensino do Colégio ICJ e presidente do Conselho da Mulher Empreendedora da ACMinas